Ó MARIA CONCEBIDA SEM PECADO, ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS!

segunda-feira, 26 de março de 2018

A Virgem Imaculada e a Medalha Milagrosa

O TRADICIONAL HINO MARIANO “STABAT MATER DOLOROSA …” NOS UNE À PAIXÃO DE CRISTO E SUA DOLOROSA MÃE



"Estava a Mãe Dolorosa ...
Olhe e veja se há uma tristeza semelhante à minha tristeza"
(tradução livre)
Diversas imagens e invocações da Virgem Maria salientam o aspecto de sua dor, ao ver o sofrimento e a morte do Filho. Desde muito cedo iniciou-se a devoção a Nossa Senhora das Dores. Sua imagem recorda as palavras do profeta Simeão, no templo de Jerusalém, na apresentação do Menino: «Uma espada transpassará a tua alma».

Ela contemplou Jesus nos momentos de dor – flagelação e crucifixão – e ela mesma viveu muitas dores: a perseguição de Herodes; a fuga para o Egito; a perda do Filho aos 12 anos, na peregrinação a Jerusalém; a morte e sepultamento dele. O povo sofrido e constantemente em contato com as "dores" da vida se identifica enormemente com a Virgem Santíssima. Com ela também se consola e fortalece, pois o sofrimento é caminho para a glorificação!

Stabat Mater (do latim "Estava a Mãe") é uma sequencia do século XIII, atribuído ao franciscano Frei Jacopone de Todi. O poema começa com as palavras Stabat Mater dolorosa ("estava a Mãe dolorosa"), e fala do sofrimento de Maria, Mãe de Jesus, durante a crucificação. Existe também o hino "Stabat Mater speciosa" ("estava a Mãe formosa"), atribuído ao mesmo autor, que contempla as alegrias de Maria junto ao Presépio.

O poema foi musicado por muitos compositores, como Antonio Vivaldi, Rossini, Dvořák e Pergolesi, Giovanni Pierluigi da Palestrina, Marc-Antoine Charpentier, Joseph Haydn, Emanuele d'Astorga, Charles Villiers Stanford, Charles Gounod, Krzysztof Penderecki, Francis Poulenc, Karol Szymanowski, Alessandro Scarlatti (1724), Domenico Scarlatti (1715), Pedro de Escobar, František Tüma, Arvo Pärt, Josef Rheinberger, Giuseppe Verdi, Zoltán Kodály, Trond Kverno (1991), Salvador Brotons (2000), Hristo Tsanoff, Bruno Coulais (2005), e mais recentemente Karl Jenkins.

A maioria do que existe escrito sobre o Dolorosa atribui a autoria do hino a Frei Jacopone de Todi, um franciscano que morreu em 1306. A Igreja só aprovou oficialmente seu uso litúrgico em 1727, quando foi incluído no Breviário Romano e no Missal para a Festa das Sete Dores, dividido em Vésperas (Stabat mater dolorosa), Matinas (Sancta Mater, istud agas) e Laudes (Virginum virgo praeclara). Entretanto Georgius Stella, chanceler de Genoa (d. 1420) em seus "Annales Genuenses" diz que ele começou a ser usado pelos Flagellantes em 1388. Em 1399 os Albati e os Bianchi já o cantavam na procissão dos Nove Dias em Provence. Parece que o texto foi roubado da Igreja da Sequência pelos heréticos. Se realmente o hino foi escrito por Frei Jacopone, partiu dos conventos para uso popular diretamente, o que não era comum na época.

O hino já teve como prováveis autores São Gregório Magno (604), São Bernardo de Claraval (1153), Inocêncio III (1216), São Boaventura (1274), Frei Jacopone de Todi (1306), o papa João XXII (1334) e Gregório XI (1378). Destes, os mais prováveis são Inocêncio III e Jacopone. Bento XIV atribui sem dúvida a Inocêncio. Mone e Hurler também fazem essa atribuição. Já Dufield (Latin Hymns Writers and Theyr Hymns) e Mearns in Julian (Dictionary of Hymnology) rejeitam. Gregorovius acha que "o intelecto frio e majestoso do papa" não o tornaria capaz de elaborar um poema com tal doçura e suavidade calorosa. São Tomás de Aquino é quem faz uma referência a um manuscrito do século XIV contendo poemas de Jacopone dentre eles um Stabat. O argumento para Jacopone não é satisfatório. Seus hinos, escritos no dialeto umbriano tornaram-se populares e merecem respeito, mas muitos certamente não são seus (é duvidoso até se ele escreveu algum), ou em todo caso, qualquer coisa melhor que imitações de hinos em latim.

O Concílio de Trento e o Papa Pio VII quiseram abolir seu uso litúrgico, provavelmente devido à sua popularidade, e de fato em 1570 foi proibido. O Papa Bento XIII em 1727 autorizou seu retorno para a festa das Sete Dores, realizada no dia 15 de Setembro. Este hino ainda hoje é cantado durante a Quaresma, na recitação e meditação da Via Sacra, entre uma estação e outra. Na Liturgia das Horas, está dividido e distribuído para algumas delas.
"Stabat Mater Dolorosa"

Tradução para o português*:

Estava a Mãe dolorosa, junto à cruz, lacrimosa,
Da qual pendia o Filho.
A espada atravessava
Sua alma agoniada, entristecida e dolorida.

Quão triste e aflita estava ali a bendita,
Mãe do Unigênito!
Quão abatida, sofrida e trêmula via
O sofrimento do Filho divino.

Qual é o vivente que não chora,
Vendo a Mãe do Cristo em tamanho suplício?
Quem não ficaria triste,
Contemplando a mãe aflita, padecendo com seu Filho?
Por culpa de sua gente, ela viu Jesus torturado,
Submetido a flagelos.


Viu o Filho muito amado, morrendo abandonado,
Entregando o seu espírito.
Mãe, fonte de amor, que eu sinta a força da dor
Para poder contigo pranteá-lo.

Faz arder meu coração devido à partida do Cristo Deus,
Para que o possa agradar.
Santa Mãe, dá-me isto: trazer as chagas do Cristo
Cravadas no coração.

Com teu Filho, que por mim morre assim,
Quero o sofrimento partilhar.
Dá-me contigo chorar pelo crucificado
Enquanto vida eu tiver.

Junto à cruz quero estar e me juntar
Ao teu pranto de saudade.
Virgem das virgens radiante, não te amargures:
Dá-me contigo chorar.

Que a morte de Cristo permita,
Que de sua paixão eu partilhe,
E que suas chagas possa venerar.
Que pelas chagas eu seja atingido e pela Cruz inebriado
Pelo amor do Filho.

Animado e elevado por ti Virgem, eu seja defendido
No dia do juízo.
Amém.




Receba o conteúdo deste blog gratuitamente. Cadastre seu e-mail abaixo.



FONTE: http://www.salvemaliturgia.com/2012/09/stabat-mater-dolorosa.html (O título é nosso e o texto foi revisto)



____________

*Omitimos o texto em latim

segunda-feira, 19 de março de 2018

A Virgem Imaculada e a Medalha Milagrosa

SÃO JOSÉ, O CASTÍSSIMO ESPOSO DA VIRGEM IMACULADA


São José, Patriarca da Santa Igreja. Igreja do Sagrado Coração
de Jesus, Roma.
Da mesma maneira que Deus havia constituído José, gerado do patriarca Jacó, superintendente de toda a terra do Egito para guardar o trigo para o povo, assim, chegando a plenitude dos tempos, estando para enviar à terra o seu Filho Unigênito Salvador do mundo, escolheu um outro José, do qual o primeiro era figura, o fez Senhor e Príncipe de sua casa e propriedade e o elegeu guarda dos seus tesouros mais preciosos.
De fato, ele teve como sua esposa a Imaculada Virgem Maria, da qual nasceu pelo Espírito Santo, Nosso Senhor Jesus Cristo, que perante os homens dignou-se ter sido considerado filho de José, e lhe foi submisso. E Aquele que tantos reis e profetas desejaram ver, José não só viu, mas com Ele conviveu e com paterno afeto abraçou e beijou; e além disso, nutriu cuidadosamente Aquele que o povo fiel comeria como pão descido dos céus para conseguir a vida eterna. Por esta sublime dignidade, que Deus conferiu a este fidelíssimo servo seu, a Igreja teve sempre em alta honra e glória o Beatíssimo José, depois da Virgem Mãe de Deus, sua esposa, implorando a sua intercessão em momentos difíceis.”
São José

Com essas palavras Sua Santidade, o então Papa Pio IX, por meio do Decreto QUEMADMODUM DEUS, de 08 de dezembro de 1870, dia da festa da Imaculada Conceição de Maria, Mãe de Deus e Esposa do castíssimo José, proclamou-o Patrono da Igreja Católica, estabelecendo o dia 19 de março para celebração de sua festividade (hoje).


E quem foi São José? Pergunta e responde Mons. Ascânio Brandão1:

O mais santo, o mais ilustre e o mais perfeito homem que já vira o mundo, a criatura mais perfeita saída das mãos de Deus, depois de Maria.
Quem foi São Jose?
O mundo o conhece e a historia regista seus feitos heroicos? Não. O Evangelho, até mesmo o Evangelho, é parco em notícias, e fala pouco de São José.
E, no entanto, o mundo não vira maior nem mais perfeita criatura.
Acima dele só Jesus e Maria. Abaixo, todos os homens, ainda os maiores Patriarcas e profetas da Antiga Lei, os maiores santos da Nova Lei.
Criatura singular e privilegiada!
O Pai adotivo de Jesus Cristo, nosso Deus, e Esposo castíssimo de Maria, Mãe de Deus!
Não se pode acrescentar nada mais a isto.
O Santo Patriarca fora predestinado por Deus, estava no plano divino da Encarnação. Jesus havia de nascer de uma Virgem, Maria Imaculada, e esta Virgem Puríssima seria esposa do castíssimo e santíssimo José.
Ad virginem desponsatam viro ciu nomen erat Joseph.
O anjo Gabriel, diz São Lucas — (cap. I, 20) — fora enviado a uma virgem desposada com um varão que se chamava, José.
Estas simples palavras do Evangelho definem São José, sua missão na terra e os singulares e sublimes privilégios que o adornaram.
O Anjo anuncia à Virgem o mistério adorável da Encarnação, e ligado a este mistério, o nome de São Jose.
Era o esposo virginal da Mãe do Verbo. Seria o Pai adotivo, o guarda, o sustentáculo do Salvador do mundo.
Seria chamado Pai do Pai de todas as criaturas.
Amparo de quem ampara o Universo. Senhor e Governador do Senhor dos senhores, do Rei dos reis.
Este é São José.
O Evangelho o chama e define também: — O Justo.
Joseph cum esset justas … José como era justo …
Eis ai, pois, quem é São José:
Esposo de Maria.
Pai adotivo de Jesus.
O maior dos Santos.
O Justo.

Dos privilégios, e missões, antes citados: o esposo, o pai, o maior dos Santos e o Justo, este último como o define o Evangelho (Mt 1,19), nos deteremos, nesta postagem, ao castíssimo Esposo de Maria.

Para melhor definirmos o castíssimo Esposo de Maria Imaculada, sua predestinação e missão, optei por transcrever os ensinamentos do Prof. Jean Galot, que, de forma sucinta, apresenta-nos São José como modelo de verdadeira relação de intimidade com sua imaculada Esposa:
Os santos esponsais de Maria Santíssima e São
José.

«Recebendo-a em sua casa», José introduziu Maria na intimidade da sua vida. Mas é muito mais verdade dizer que era ele a entrar na intimidade de Maria, como se entra no próprio ambiente, na própria esfera de penetração em contato com uma alma mais bela e mais rica. Neste sentido espiritual era Maria que recebia José em sua casa.

Toda a intimidade tem qualquer coisa de inexprimível; é impossível descrever a intimidade de José e Maria. Foi, ao mesmo tempo, simples e rica, límpida e profunda, na união das duas almas.

Esta intimidade não consistiu só na participação das alegrias, das penas e das atividades da vida quotidiana. Foi sobretudo uma comunhão da vida da graça.

No encontro com Maria, José ficara particularmente impressionado com esta graça sobrenatural. Notara o encontro superior brotado desta alma virginal e a sedução que Maria exercia sobre ele provinha duma beleza que era também santidade. Por isso, este encontro não era uma impressão superficial que se desvanece ao contato banal da realidade quotidiana, nem a efêmera atração que se dissipa com o fim da beleza corporal. O encanto de Maria persistiu e José sentiu-se cada vez mais compenetrado dele. A graça divina de que Maria está cheia impregnava os seus gestos e palavras, iluminava os traços do seu rosto duma beleza plácida e luminosa. Cada dia José era novamente seduzido, mais ainda do que no seu primeiro encontro; e, como antes, era Deus, por meio de Maria, que o atraía para si cada vez mais.

Este encanto sobrenatural da companhia de Maria foi de grande apoio para José. A Virgem tornava amável a virtude e fácil de cumprir o próprio dever. Não era daquelas criaturas que admiramos pela sua virtude e austeridade, mas cuja frieza nos desanima um pouco e correm o risco de nos tomar desagradável o dever. Ela praticava o bem com facilidade e desempenhava todas as suas obrigações com tal amor que mais fazia ressaltar o seu aspecto agradável. A plenitude de graça que a cumulava era revelada pelo sorriso com que praticava as suas ações que, secretamente, lhe eram mais difíceis; o seu amor, para ser perfeito, devia ser sorridente. José sentia-se por isso muitas vezes animado.

São José com o Menino Jesus (artista Guido Reni,
1635, aproximadamente)

Reciprocamente, ele ofereceu a Maria o seu amparo; as suas qualidades de perseverante fidelidade, de coragem calma e firme, de lealdade absoluta e de dedicação sem reserva foram para Nossa Senhora um grande auxílio, contribuíram para confirmar cada vez mais a sua missão e o seu fervor.

E se José não foi desiludido por aquela que tinha escolhido para esposa, também Maria não o foi por aquele que a Providência lhe deu como esposo. José soube cumprir todas as promessas, todos os compromissos do seu casamento. Ao conhecê-lo mais familiarmente numa vida lado a lado, Maria amou-o cada vez mais. Era verdadeiramente o esposo modelo.

E não o foi porque deu à sua união tudo o que se espera dum esposo, mas porque entrou em plena comunhão de ideias com Maria relativamente à obra que deviam realizar. Tratava-se de preparar o Messias que devia salvar o mundo. Maria, desde o dia da Anunciação, só vivia para esse fim: José, partilhando de todo o seu coração esta preocupação, fazia sua a razão da vida de Maria e elevava ao nível mais alto a sua comunhão de almas. O amor do lar tornava-se universal, visto que o lar existia para dar aos homens um salvador.

Deste modo, a intimidade de José e Maria nada tinha de união fechada sobre si mesma. A sua felicidade não queria esconder-se num refúgio fechado, como um parêntese no destino do mundo, descuidando todo o interesse universal para gozar uma vida serena. Na vontade de José como na da esposa, esta felicidade concentrava-se sobre a presença do Salvador universal, desejando comunicar-se, por meio desta presença, a toda a humanidade.
"Sagrada Família", Basílica de Maria Auxi-
liadora, Turim-Itália

A imensidade de tal objetivo devia conferir a esta intimidade um incessante impulso. Ao considerar a obra grandiosa em preparação, José devia encontrar encantadora a sua vida de companheiro da mãe do Messias.

Sob muitos aspectos, a intimidade de José e Maria foi única e inimitável. Era uma intimidade, ao mesmo tempo, conjugal e virginal, destinada a oferecer um ambiente de amor necessário ao desenvolvimento do menino que havia de salvar o mundo.

Por outro lado, em virtude de certas características, esta intimidade constitui o modelo dos laços de afeto que devem unir os cristãos a Maria. É muito significativo que o fato pelo qual José entrou na intimidade de Maria seja mencionado pela segunda vez pelo Evangelho em circunstâncias diferentes que não se referem a José, mas sim a um discípulo de Jesus.

Para cumprir o que o Anjo lhe mandou, José recebeu Maria em sua casa. Quando o discípulo amado ouviu, ao da Cruz a comovente declaração do Mestre moribundo: «Eis a tua mãe», procedeu da mesma maneira: «E a partir daquele momento conta o Evangelista recebeu-a o discípulo em sua casa» (João, XIX, 27).

O discípulo amado representa nesta cena todo o discípulo de Cristo, enquanto objeto do seu amor e recebendo em sua casa Maria como Mãe, pertence a todo o cristão, em certo sentido, repetir o gesto do Apóstolo João. Cada um deve receber Maria em sua casa, isto é, recebê-la no próprio coração, viver em sua companhia e dedicar-lhe o amor que convém a uma mãe.
A santa morte de São José, nos braços de Jesus.

Deste modo compreendemos como a intimidade do lar de Nazaré foi o princípio e o modelo da intimidade dos cristãos com a Virgem. E José está em ótima posição para animar esta intimidade. Se a palavra de Jesus ao Discípulo amado constitui a base da devoção que todos os discípulos devem ter a Maria, reconhece-se logo a missão que José é chamado a desempenhar no progresso desta devoção.

Antes da ordem do Senhor, ele realizou aquela perfeita intimidade de amor com Maria que constitui um aspecto da vida cristã. Ele ajuda, pois, os cristãos a receberem Maria em si, a dar-lhe um lugar privilegiado nos seus pensamentos e sentimentos, a viver em sua companhia prestando-lhe a homenagem da sua veneração e demonstrando-lhe um confiado abandono. Ajuda-os a deixarem-se conquistar pela Virgem, pelo esplendor da plenitude da sua graça, pelo encanto da sua sorridente presença, pela atmosfera de pureza que a circunda.

Como a sua comunhão de vida com Maria foi uma comunhão ideal, ele ajuda sobretudo os cristãos a compartilhar do ideal da Virgem, a colaborar voluntariamente com ela na grande obra da salvação da humanidade. Incita-os a desejar o que foi objeto de todo o desejo e cuidado de Maria: uma maior presença do Salvador no mundo.

José orienta assim a devoção a Maria na sua perspectiva fundamental: a de um maior amor a Cristo. Faz-lhe abraçar a visão duma humanidade a salvar. O amor filial que os cristãos dedicam a Nossa Senhora torna-se deste modo mais que uma simples intimidade de filho com sua mãe; torna-se cooperação com ela na grandiosa empresa da libertação e santificação das almas.

Receber Maria em sua casa, significa participar da universalidade da sua esperança e do seu amor.”2
São José na Glória Eterna

Assim, que o glorioso São José, castíssimo Esposo da Virgem Imaculada e Patrono da Igreja, seja nosso mais fiel modelo de verdadeiro amor e união filial à Santíssima Virgem.

Oração: Ó Deus, que em vossa inefável providência vos dignastes escolher o Bem-aventurado José para esposo de vossa Mãe Santíssima, vô-lo pedimos que venerando-o na terra como protetor, mereçamos tê-lo no céu como intercessor.3

Por Maria a Jesus!

Sou todo teu, Maria.






Receba o conteúdo deste blog gratuitamente. Cadastre seu e-mail abaixo.





_________________________________
1 BRANDÃO, Mons. Ascânio. “São José”, opúsculo em pdf das Escolas Profissionais Salesianas, Niterói/1943.

2 GALOT, Jean. “São José”, tradução de Manuel Alves da Silva, S.J., Edições Paulistas, 1965, Cap. VII, O Esposo da Virgem, pp 42 a 47 – Texto revisto e atualizado.


3 cf. Carta Apostólica Inclytum Patriarchamde do Papa Pio IX sobre São José, concedendo as prerrogativas litúrgicas dos Patriarcas às festas de S. José, capturada em http://www.amoranossasenhora.com.br/carta-apostolica-inclytum-patriarchamde-do-papa-pio-ix-sobre-sao-jose/.

quinta-feira, 15 de março de 2018

A Virgem Imaculada e a Medalha Milagrosa

OS CORAÇÕES JUSTAPOSTOS NA MEDALHA MILAGROSA SIMBOLIZAM A CORREDENÇÃO E A MEDIAÇÃO DE MARIA – PARTE II

(Continuação da postagem anterior)
Nossa Senhora das Graças

2. MARIA, A DISPENSADORA DE TODAS AS GRAÇAS

Se Maria participou na aquisição das graças da Redenção, é óbvio que participe outrossim na dispensação das mesmas. Basta lembrar que a primeira graça espiritual no Novo Testamento — a santificação do Batista no seio materno — foi dada por meio de Maria, como verifica Elisabete (Isabel) no S. Evangelho (cf. Lc 1,41-45); da mesma forma, a primeira graça de índole material — a conversão da água em vinho — foi concedida por Jesus mediante à prece de Maria (cf. Jo 2,1-11). Estes dois episódios podem ser tidos como indícios de uma lei geral da Providência Divina.

A tradição cristã desde cedo exprimiu a sua fé na ação medianeira de Nossa Senhora, como atesta um papiro grego (cm 19 x 9,4) do séc. III, encontrado há decênios no Egito, em que já se lê o texto da famosa oração: À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas..., mas livrai-nos de todos os perigos... (Sub tuum praesidium...); é esta a mais antiga prece à Virgem que se conhece. Os antigos escritores da Igreja ilustravam a doutrina da Medianeira recorrendo a metáforas: Maria seria a «Porta do céu, o Aqueduto, a Mãe da Vida, a Estrela do mar, etc.».

Contudo, se se pergunta qual o modo exato como a Virgem dispensa todas as graças, os teólogos se veem diante de hesitações, que alguns chegam a julgar insolúveis para nós aqui na terra.
Sagrados Corações de Jesus e Maria

Em meio às dúvidas, há ao menos o seguinte ponto unanimemente reconhecido: Maria dispensa todas as graças por sua intercessão. Não há dúvida. Deus quer salvar as criaturas mediante as preces de umas pelas outras (por isto os cristãos se acham unidos na Comunhão dos santos, que é comunhão de méritos). Ora Maria conhece os homens em Deus e os ama com solicitude especial ou materna; se já aqui na terra a caridade leva os santos a orar pelo próximo, Maria no céu não pode deixar de interceder qual Mãe por seus filhos.

A questão debatida, porém, é a de saber se a Virgem não toma parte mais íntima ainda na dispensação das graças, ou se, além da intervenção meramente moral de Intercessora, não lhe compete uma intervenção que se diria física, à semelhança do que se dá com a santíssima humanidade de Cristo e os sacramentos.

A solução talvez se encontre na seguinte sentença.
A Virgo Potens rezando pelo mundo

Sabe-se que certamente pela Igreja Deus comunica aos homens as suas graças; é pela Igreja que renascemos e somos continuamente nutridos na vida sobrenatural. A Igreja é assim Medianeira de todas as graças. E note-se que este papel medianeiro da Igreja não se restringe unicamente ao ministério dos sacerdotes; todos os fiéis, cada qual na posição que ocupa no Corpo Místico, participam da função transmissora da graça que a Igreja exerce. Santo Agostinho dizia que, todas as vezes que uma criancinha é batizada, todos os cristãos participam da atividade generativa da nova vida ou exercem a Maternidade da Santa Madre Igreja (De diversis quaestionibus 83, qu. 59 ; In ps 127,12).

Faça-se agora a aplicação desta verdade a Maria: a Santíssima Virgem ocupa na Igreja uma posição eminente e sem par. Se, pois, cada um dos membros do Corpo Místico participa na mediação da Igreja, não apenas por suas preces e seus exemplos, mas pela sua posição e o seu ser mesmos sobrenaturais, com mais razão se afirmará que a Virgem Santíssima é Medianeira num sentido físico, e Medianeira num grau de todo próprio, correspondente aos seus estupendos privilégios e à sua santidade.

É o que por ora se poderia dizer em termos breves e sólidos sobre o assunto.



Receba o conteúdo deste blog gratuitamente. Cadastre seu e-mail abaixo.



FONTE: artigo de Dom Estêvão Bettencourt, OSB, respondendo a duas perguntas formuladas por Terceiro Franciscano e um Catecúmeno, “Revista Pergunte e Responderemos 004 – Abril1958”, capturado em http://www.pr.gonet.biz/kb_frame.php – O título e os destaques são nossos, bem como revisamos e atualizamos o texto. 

segunda-feira, 12 de março de 2018

A Virgem Imaculada e a Medalha Milagrosa

OS CORAÇÕES JUSTAPOSTOS NA MEDALHA MILAGROSA SIMBOLIZAM A CORREDENÇÃO E A MEDIAÇÃO DE MARIA – PARTE I

De que modo Nossa Senhora é nossa Corredentora?” (Perguntou um Terceiro Franciscano de Londrina)
Qual o grau de certeza teológica da mediação universal de Nossa Senhora e como conciliar tal mediação com 1 Tim 2,5 ?” (Perguntou um Catecúmeno de Recife)

Um só é o Mediador entre Deus e os homens, a saber, Cristo. Tal é a doutrina de São Paulo (1 Tim 2,5) e da Tradição cristã, oportunamente inculcada pelos concílios de Florença em 1442 e Trento em 1546 (cf. Denzinger, Enchiridion 711.790).

A unidade, porém, do Mediador não exclui a colaboração subordinada de Maria Santíssima na obra da Redenção. Já do simples fato de que, por livre vontade divina, a Virgem se haja tornado Mãe de Deus ou a criatura mediante a qual Deus se encarnou, decorre seja ela de algum modo Medianeira; havendo dado ao mundo a Fonte de todas as graças, como não lhe dará atualmente cada uma das graças que recebe?

Desde a definição da Divina Maternidade de Maria em Éfeso no ano de 431, esta proposição se foi tornando cada vez mais explícita na Igreja e é hoje amplamente focalizada.

Eis como a explicam os teólogos contemporâneos:

Distingam-se dois aspectos da Mediação de Maria:
1) a mediação na aquisição dos méritos de nossa Redenção ou na Redenção dita objetiva. Por esta sua função, Maria é chamada Corredentora;
2) a mediação na distribuição atual dos méritos outrora adquiridos ou na Redenção subjetiva. Tendo tomado parte na obtenção da vitória, é lógico que Maria concorra para a distribuição dos frutos da mesma. A este título, a Virgem é, propriamente dita, Dispensadora ou Medianeira de todas as graças.

Analisemos separadamente cada um desses aspectos da teologia mariana.
Gravura da Anunciação do Senhor

1.  A CORREDENTORA

Por este título, entende-se dizer que Maria, junto com seu Divino Filho, tomou parte na obtenção do tesouro de graças que valeram a reconciliação do gênero humano com o Pai Eterno.

E quais terão sido as sábias intenções de Deus que O levaram a atribuir a Maria Santíssima tão solene função no seu plano eterno?

Duas são as razões, indicadas pela Escritura e a Tradição, para ilustrar tão elevado desígnio:

1) o paralelismo vigente entre «o primeiro Adão e a primeira Eva», de um lado, e «o segundo Adão e a segunda Eva», do outro. Tal correspondência já é mencionada ligeiramente por São Paulo, aos Romanos 5,14, e desde o séc. II foi explanada pela Tradição cristã (S. Justino, S. Ireneu, Tertuliano...).

Aprofundemos o paralelismo.
Virgem Imaculada de Guadalupe combatendo o mal,
representado pelo Dragão de sete cabeças (Ap 12)

Conforme o plano de Deus (cf. Gên 2,20-23), a mulher foi criada para ser a auxiliar semelhante ao homem, sua companheira na luta cotidiana, principalmente na obra de transmitir a vida. Sem a mulher, o varão não consegue a dignidade de pai. Ora, se Deus assim quis proceder na constituição da natureza humana no início dos tempos, parece que deve ter procedido de maneira análoga na obra de reconstituição e consumação da criatura na plenitude dos tempos. Na base desta verificação, os teólogos afirmam que o plano divino de recriação do gênero humano obedeceu à mesma linha que o da criação: o Filho de Deus se tornou o novo Pai, o segundo Adão, do qual todos os homens devem renascer, não na ordem física, mas no plano sobrenatural; e, em vista desse renascimento espiritual ou dessa obra de transmitir a vida sobrenatural, o novo Adão quis ter por auxiliar subalterna a nova Eva: Maria. É São Bernardo (+1153) quem o lembra:

«Irmãos caríssimos, há um homem e uma mulher que nos prejudicaram grandemente, mas, graças a Deus, há também um homem e uma mulher que tudo restauraram, e com notável superabundância de graça... Sem dúvida, Cristo por si só bastava-nos, pois... tudo que possamos fazer no plano da salvação, d’Ele vem; todavia era bom que o homem não ficasse só. Havia profunda conveniência em que os dois sexos tomassem parte na nossa Redenção, como haviam tomado parte em nossa queda» (Sermão sobre as doze estrelas 1, ed. Migne lat. 183, 429).

Este texto faz ressoar a harmonia que caracteriza as obras de Deus. O Todo-Poderoso age de maneira suave e forte (cf. Sab 8,1): suave, porque respeita o humano e dele se serve; forte, porque revigora o elemento humano decaído que Deus quer utilizar.

E como terá Maria cumprido o seu papel de nova Eva associada à obra da Redenção?
A Imaculada Conceição de Maria

Cumpriu-o primeiramente quando pronunciou o seu Fiat para que o Filho de Deus nela se encarnasse (cf. Lc 1,38). Da aquiescência da Virgem pode-se dizer que Deus quis fazer depender a realização da Redenção (cf. São Tomaz, Suma Teológica III 30, 1c e ad 1). Destarte, dando a sua carne ao Filho de Deus, a Virgem colaborou remotamente na obra de resgate do gênero humano. Sua função sagrada, porém, estendeu-se mais além: o Filho de Deus não se encarnou senão para oferecer a sua carne padecente ao Pai como hóstia de reparação pelo gênero humano; consequentemente o Fiat de Maria envolvia participação da Virgem Mãe na oferta do Calvário; esse Fiat prolongou-se no consentimento que ela deu à imolação do Filho, compartilhando generosamente com Ele ao pé da Cruz suas penas e dores. E esse «compartilhar» foi fecundo ... Pode-se dizer que, depois de haver gerado o Cristo Cabeça, Maria, padecendo ao pé da Cruz, sofreu as dores do parto em que gerou o Cristo Místico ou o novo gênero humano; foi então que ela se tornou a Mãe dos homens, como insinua a palavra que Jesus lhe dirigiu na hora das dores mais cruciantes: «Mulher, eis o teu filho» (Jo 19,26).

A propósito vem a observação do Santo Padre Bento XV na carta «Inter Sodalicia» de 22 de março de 1918 (AAS 10 [1918] 181-84):

Os doutores da Igreja costumam notar que, se Maria, a Virgem Santíssima, a qual parecia ausente de toda a vida pública de Jesus Cristo, de repente se encontra presente à morte de seu Filho Crucificado, isto não se deu independentemente de um desígnio divino... Enquanto o seu Filho sofria e morria, ela sofria e de certo modo morreu com Ele; para a salvação dos homens, ela renunciou aos direitos maternos sobre o seu Filho [não se entenda esta expressão em sentido estritamente jurídico]; a fim de aplacar a justiça divina na medida em que o podia, ela imolou o seu Filho, de sorte que se pode dizer com razão que, com Cristo, ela resgatou o gênero humano.
A crucifixão do Senhor. Aos pés da Cruz estava Maria, a Mãe de
Jesus, Maria Madelena e o apóstolo S. João

Eis como se desenvolve o paralelismo «Adão, Eva» — «Cristo, Maria» até se chegar à conclusão de que a Virgem Santíssima foi intimamente associada à obra da Redenção objetiva.

2) Ainda o seguinte traço fornece fundamento ao título de Corredentora; Maria sofreu como Rainha dos mártires, e, se se dá crédito à tradição mais antiga, morreu (note-se que o Santo Padre Pio XII em 1950 apenas definiu a elevação corporal de Maria aos céus, deixando suspensa a questão da morte da Virgem, que muitos autores, seguindo os documentos mais antigos, afirmam, mas que outros teólogos, atendendo antes a razões especulativas, preferem negar). Ora, já que Maria fora preservada do pecado original, o sofrimento não era pena a ela devida. As suas dores só podem ter sido motivadas pelos pecados alheios e em vista da expiação dos mesmos; o que equivale a dizer: o seu sofrimento foi, unido ao de Jesus, um sofrimento estritamente redentor, corredentor.

Assim comprovado o fato da Corredenção, é preciso acentuar que ele não derroga à obra de Cristo.

Com efeito, Maria tornou-se corredentora porque seu Divino Filho lhe quis outorgar esta dignidade. Ela mesma, sem dúvida, foi remida, mas remida de modo próprio e com a finalidade de ser particularmente associada à obra da Redenção dos demais homens (a Virgem Santíssima pertence, como se diz, à linha da união hipostática; o que quer dizer: está colocada acima de qualquer criatura, e tudo que nela se realiza, inclusive a obra da Redenção, se realiza de modo único). Se Maria foi remida, se tudo nela é graça, vê-se que ela não tem méritos independentes dos de Cristo nem nos comunica algo de seu; ela antes se assemelha à lua, que ilumina a terra não por sua própria luz, mas exclusivamente na medida em que e iluminada pelo sol.
Nossa Senhora das Dores

A título de ilustração, considere-se que o ser de Deus é infinito, e o das criaturas participado; que se dá então quando Deus cria novos seres? Está claro que não se multiplica a quantidade de ser anterior à criação, mas apenas surgem novos suportes ou sustentáculos do ser anteriormente existente. De modo análogo, os méritos de Cristo são infinitos; Maria nada lhes pôde acrescentar, mas foi constituído novo e privilegiado receptáculo desses méritos. Perguntar, pois, por que era necessária à Corredenção de Maria, já que a Redenção a ser realizada por Cristo nos bastava, equivale a perguntar por que era necessário o ser das criaturas, já que o ser de Deus basta para esgotar toda a linha do Infinito; vê-se que se trata de necessidade livremente instituída pela soberana e benévola Vontade de Deus.

Mais ainda se poderia insistir: Por que quis Deus multiplicar os sujeitos da obra redentora? — Responder-se-á: o Criador tudo faz com abundância e prodigalidade; ora, já que fez dois tipos humanos destinados a se completar mutuamente na transmissão da vida natural, quis também associar um varão (Cristo em sua natureza humana) e uma mulher na comunicação da vida sobrenatural.

Após o que foi acima visto, conclui-se que negar a Corredenção mariana a título de enaltecer a Redenção adquirida por Cristo vem a ser, em última análise, não propriamente honrar a Cristo, mas antes depauperar a obra do Redentor. Bossuet (+1704) observava com muita oportunidade:

Não sejamos daqueles que julgam diminuir a glória de Jesus Cristo quando nutrem elevados sentimentos para com a Santíssima Virgem e os Santos... Por certo, seria atribuir a Deus fraqueza deplorável crer que se torne invejoso das dádivas e luzes que Ele derrama sobre as suas criaturas. Pois que são os santos e a Santíssima Virgem se não a obra das mãos e da graça do Criador? Se o sol fosse animado, não conceberia inveja ao ver 'a lua que preside à noite', como diz Moisés, e preside com luz tão clara porque toda a claridade da lua se deriva dele e é o sol mesmo que a nós refulge e nos ilumina pelo reflexo de seus raios.

Por mais elevadas que sejam as perfeições que reconhecemos em Maria, poderia Jesus Cristo ter-lhes inveja, pois que d’Ele é que decorrem e é à glória exclusiva d'Ele que se referem? (3o sermão na festa da Conceição da Virgem 1669. Obras t. II. Paris, 1863, 51).

Continua....



Receba o conteúdo deste blog gratuitamente. Cadastre seu e-mail abaixo.





FONTE: artigo de Dom Estêvão Bettencourt, OSB respondendo a duas perguntas formuladas por Terceiro Franciscano e um Catecúmeno, “Revista Pergunte e Responderemos 004 – Abril 1958”, capturado em http://www.pr.gonet.biz/kb_frame.php – O título e os destaques são nossos, bem como revisamos e atualizamos o texto)